O Escritório de Investigação e Análise para a segurança da aviação civil (BEA, na sigla em francês) conseguiu extrair com sucesso as gravações da cabine que estavam contidas em uma das caixas-pretas do avião da Germanwings que caiu nos alpes franceses nesta terça-feira (24), segundo a agência Reuters. A aeronave levava 150 pessoas a bordo - 144 passageiros e seis tripulantes - e caiu por motivos desconhecidos em uma zona alpina da França.
A última mensagem da cabine do avião para o controle de tráfego era rotineira, segundo a BEA. Um minuto depois, o avião começou a descida, que continuou até o impacto. O radar acompanhou a aeronave até bem pouco antes do impacto com a montanha.
O equipamento encontrado é responsável por gravar vozes e sons do cockpit e permite escutar as conversas, além de todos os sons e anúncios ouvidos na cabine do piloto, incluindo os alarmes que eventualmente podem soar. Contudo, os investigadores ainda "não tem a menor explicação" sobre as causas do acidente que deixou 150 mortos.
Segundo Rémi Jouty, diretor do BEA, a trajetória do avião indica que ele voou até o fim, descartando a hipótese de explosão. "Isso não é a característica de um avião que explodiu em voo", disse, explicando a maneira como os destroços ficaram espalhados no terreno da queda. Ele se recusou a dizer se a tripulação estava consciente durante a queda e na hora do choque.
"Neste estágio, evidentemente, não temos a menor explicação ou interpretação sobre as razões que levaram este avião a descer, e as razões pelas quais ele continuou a descer, infelizmente, até o relevo, ou as razões que impediram que eles respondessem às tentativas de contato do controle aéreo", ressaltou o diretor do BEA.
"Neste estágio não fechamos qualquer hipótese", resumiu, confirmando apenas que o Airbus da Germanwings não explodiu no ar e que "voo até o final".
A caixa-preta foi recuperada ainda nesta terça no local do acidente e segue sendo analisada. O ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve reconheceu nesta quarta-feira (25) que ela estava danificada.
Segunda caixa-preta
O diretor do BEA disse que as buscas são difíceis no local do acidente e a prioridade agora é encontrar a outra caixa-preta, com os parâmetros de voo. A análise física das peças do avião trará resultados limitados para a investigação, segundo ele.
Mais cedo, o presidente francês, François Hollande, disse que a carcaça da segunda caixa-preta foi encontrada, mas o seu conteúdo ainda é procurado.
Segundo o representante da BEA, é necessário comparar os dados das duas caixas-pretas para saber o que exatamente aconteceu com o avião acidentado. Isso pode levar dias, semanas ou meses.
Reconstituição dos dados
O secretário de Estado de Transportes francês, Alain Vidalies, explicou em entrevista à emissora "Europe 1" que a caixa será provavelmente avaliada em duas fases.
"Se há vozes humanas, será feito muito rapidamente. Depois se trata de analisar os ruídos, isso pode requerer várias semanas", detalhou Vidalies.
Embora não haja conversas na última meia hora, será possível estudar os sons registrados na cabine, mas esse é um processo "muito mais preciso e mais longo", que pode levar "semanas ou meses".
Em declarações a um grupo de jornalistas, o promotor do Ministério Público de Marselha encarregado do caso, Brice Robin, explicou que "talvez tenhamos um primeiro resultado da análise da caixa-preta no final desta tarde, mas os exames complementares demorarão vários dias".
Buscas
Os trabalhos de busca dos corpos e dos destroços da fuselagem do avião, na qual participam mais de 600 bombeiros e militares, foram retomados nas primeiras horas desta manhã.
O início dos sobrevoos dos helicópteros encarregados de transportar os investigadores ao local exato da queda, de acesso impossível por estrada, começou pouco depois, às 8h do horário local (4h, pelo horário de Brasília).
A prioridade nesta quarta é recuperar o conteúdo da segunda caixa-preta. As equipes de buscas quase não têm esperanças de encontrar alguma vida entre os 150 ocupantes do avião, seis deles integrantes da tripulação.
Os destroços estão localizados em uma região de 2 mil metros de altitude, e segundo o general francês David Galtier, "os pedaços de corpos humanos localizados não são maiores que uma pequena maleta".
Vítimas
Segundo o premiê francês, Manuel Valls, os passageiros a bordo do avião eram pelo menos 10 nacionalidades diferentes. A maior parte era da Alemanha e da Espanha. Também foi confirmada a presença de cidadãos de Argentina, Austrália, Bélgica, Colômbia, Dinamarca, Grã-Bretanha, Israel, Japão, Marrocos, México e Holanda.
O CEO da Germanwings, Thomas Winkelmann, divulgou nesta quarta uma lista atualizada das nacionalidades das pessoas a bordo do avião. Segundo ele, a aeronave levava 72 alemães, 35 espanhóis, dois australianos, dois argentinos, dois iranianos, dois venezuelanos, dois norte-americanos, um britânico, um holandês, um colombiano, um mexicano, um dinamarquês, um japonês, um belga e um israelenses.
A nacionalidade de algumas vítimas ainda é incerta, especialmente devido a casos de dupla nacionalidade.
Também há conflito com informações passadas por governos locais. O Reino Unido informou que havia três britânicos no voo. Já o governo espanhol disse que havia 49 vítimas espanholas na aeronave, e não 35.