Que os japoneses são educadíssimos, todo mundo sabe.
Mas a educação deles vai além da simples gentileza e da discrição. A educação do japonês, que a gente tanto inveja e admira, está ligada à tradições rígidas e à convenções sociais que devem ser seguidas à risca. Para o japonês, incomodar o outro é uma falha grave e eles se comportam para serem imperceptíveis (às vezes até invisíveis) e agradáveis aos olhos do outro.
Para os brasileiros, ser educado não está diretamente ligado ao silêncio ou à invisibilidade. Assim como na cultura nipônica, a nossa cultura é muito forte e exerce grande influência no nosso comportamento: gostamos de beijar, abraçar, damos risada alto e não temos problema nenhum em expressar nossa indignação.
Aí você vai para o Japão. Um país super aberto e receptivo aos turistas, porém ritualístico ao extremo. E aí o que você faz? Como se comporta?
Sabe aquele ditado “Quando em Roma, faça como os romanos”? A Magali te mostra 10 coisas que você não deve fazer no Japão. É claro, ninguém vai reclamar de você ou te colocar pra fora se você não seguir essas regras, mas quando viajamos para um país que não é o nosso, parte da graça é absorver e aprender um pouco da cultura, não é?
Claro que existem muitas outras coisas que você deve evitar, mas só com essa listinha básica e fácil de seguir, você não cometerá nenhuma gafe durante sua estada na Terra do Sol Nascente.
1) Falar ao celular ou falar alto no transporte público
Você acha que metrô, trem e ônibus são lugares adequados para discutir aquela atração turística maravilhosa que você acabou de ir? Ou ligar para a sua família para contar que acabou de comer o melhor sushi da vida?
Então, está na hora de você rever seus conceitos.
Quando os japoneses entram no metrô ou mesmo no ônibus, eles praticamentemorrem dormem. Ou eles dormem mesmo, ou leem um livro, ou jogam algum game no celular (sem som, pelamordideus), ou apenas baixam a cabeça durante a viagem. Não importa quão cheio esteja o trem, o silêncio domina. O máximo que você vai ouvir são alguns cochichos, quando alguém realmente precisa se comunicar.
Os celulares são proibidos próximos aos assentos para idosos, eles devem ficar desligados pois podem dar interferência em marcapassos, por exemplo.
Nas outras áreas, mesmo não havendo nenhuma restrição ao uso, ninguém fala ao celular. Ou mesmo permite que ele toque. Os japoneses mantêm seus celulares o tempo todo no silencioso, em qualquer lugar, pois o toque do celular pode incomodar o amiguinho do lado.
Em 20 dias de Japão, andando de trem, metrô e ônibus pra cima e pra baixo, vi poucas pessoas saindo do vagão para atenderem aos seus celulares na plataforma (deveria ser algo muito urgente mesmo), um executivo atendendo o celular dentro do vagão, mas quase deitado no chão e falando em uma voz quase inaudível e apenas um celular tocou, de uma mulher dentro do ônibus, que pediu desculpas a cada passageiro e até ao Papa por ter cometido este erro.
Mesmo no shinkansen, o trem bala, onde a maioria dos passageiros é turista, o silêncio impera. O máximo que se ouve são ruídos de latas, garrafas de bebidas e bentôs sendo abertos, já que são permitidos e muito consumidos dentro deste trem.
De vez em quando, você vai ouvir um grupo rindo um pouco mais alto, ou conversando mais animadamente. Mas aí você já sabe que eles não são japoneses e que não estão tão bem informados assim, pois não leram este post ;)
2) Encarar as pessoas ou tirar fotos delas na rua
Sim, eu sei que a menina vai estar usando uma bolsa incrível ou que o cara vai ter um estilo que você quer copiar, mas lembra da história da invisibilidade?
Os japoneses simplesmente não gostam de ser encarados. Como eles tratam tudo com muita discrição, aquela boa olhada ou aquele olho no olho desconhecido (mesmo que você ache que encontrou o amor da sua vida) simplesmente não vão rolar aqui. A menos que você queira deixá-los totalmente constrangidos e desconfortáveis ou ser visto como um freak.
Então, se a vontade de olhar for irresistível, disfarce, dê somente aquela olhadela e continue a sua vida.
Outra coisa que não pega muito bem por lá é tirar foto das pessoas na rua. Mesmo quando você ver um cara vestido de Hello Kitty no meio de Shibuya, resista ao desejo incontrolável de clicar, ou faça isso discretamente. Pedir pra tirar foto, então, nem pensar!
Eles são bem encanados, principalmente as meninas, porque há realmente uns freaks soltos por lá que gostam de tirar fotos sem ser autorizados. Você pode até se meter em uma bela de uma encrenca por isso.
Uma noite, estávamos em Nikko na famosa ponte Kinu tateiwa Otsuribashi (falo mais sobre a cidade neste vídeo aqui), quando um policial nos abordou para perguntar se tínhamos visto um homem que estava tirando fotos de meninas… Ui, que medo!
3) Cumprimentar as pessoas com o calor brasileiro
Se você conhecer alguém no Japão e mesmo se essa pessoa ficar mais próxima de você, segure seus instintos ao cumprimentar essa pessoa. Por mais cotidiano e normal que seja para nós, brasileiros, cumprimentar os outros com um beijinho no ombro rosto e um abraço, para eles deve ser algo de Marte.
Eles evitam o contato físico com a outra pessoa, mesmo que essa pessoa seja sua amiga. Um ‘oi’ de longe já resolve a situação, mas imitar o outro sempre funciona em culturas que não nos são comuns. Se a pessoa estender a mão para você, estenda a sua de volta; se ela se curvar, em sinal de respeito, faça o mesmo; e se for um japonês que gosta de uns beijinhos e tomar a iniciativa, com cautela, vá em frente.
Lembre-se que você está no território deles e por mais que queira passar uma mensagem de afetividade, carinho, você pode ser inadequado.
Um outro desdobramento deste item são as demonstrações de afeto em público. Ok, você é brasileiro, está lá com a sua namorada brasileira também e quem tem alguma coisa a ver com isso? Ninguém. Mas nem por isso você vai dar aquele amasso no meio do shopping, né?
Não é como alguns países muçulmanos em que você não pode andar de mãos dadas ou mesmo perto. O Japão é um país livre e você pode fazer o que bem entender. Mas para não ser visto com maus olhos, use sempre este pensamento para te guiar: “Eu faria isso na frente da minha mãe, avó?” (pode substituir por qualquer pessoa que você tenha grande respeito), e demonstre o seu carinho em público apenas da mesma forma que você demonstraria na frente desta pessoa.
Mãos dadas e selinhos estão de bom tamanho. Deixe a sua paixão para depois. Get a room!
4) Entrar na casa de alguém de sapatos
Esse é um costume que deveria entrar pela porta da frente na casa de todo mundo. Eu juro que tento seguir, mas aí quando já estou no hall do elevador, de sapato, atrasada, lembro que esqueci a chave do carro e aí saio correndo com sapato e tudo na pontinha do pé pra dentro de casa para pegar a bendita chave (como se adiantasse alguma coisadevo achar que a ponta do sapato não tem sujeira).
Os japoneses não entram de jeito nenhum de sapato em casa, e isso é higiênico demais. Por que alguém em sã consciência gostaria de levar toda a sujeira da rua para dentro da própria casa?
Em geral, as casas japonesas já tem um lugarzinho ali perto da porta para deixar os sapatos, e os calçados de lá também costumam ser mais fáceis de por e tirar (ou eles que são muito habilidosos) e já ficam alguns chinelinhos logo na entrada para você usar exclusivamente dentro de casa (tem até um especial só para ir ao banheiro). Essa regra também vale para os ryokans (pousadas típicas japonesas), quartos de hotéis e alguns restaurantes.
Ou seja, se você conhecer algum japonês tão bem a ponto de ser convidado até a casa dele, mesmo que seja uma visitinha rápida e que ele diga para você manter os sapatos, faça questão de tirar. Minha casa, minhas regras. Sacou?
5) Dar o lugar para alguém no transporte público
A menos que a pessoa use bengalas, tenha alguma dificuldade de locomoção ou esteja grávida.
Os idosos tem assentos exclusivos no trem e metrô (veja bem, exclusivo e não preferencial, não pode sentar neles mesmo), mas para todos os outros, a regra é chegou, sentou.
Isso pode parecer paradoxal em uma sociedade tão bem educada, mas a verdade é que além de muitos, os idosos no Japão são muito independentes, funcionais e tem uma boa saúde. Dar o lugar para eles pode ser visto como uma ofensa, como que subestimando a energia e saúde da pessoa, mesmo que a sua intenção seja das melhores.
Aqui no Brasil, já vi algumas pessoas cedendo gentilmente seu lugar para uma mulher, o que é inclusive um sinal de cavalheirismo. Isso também não funciona no Japão. Mais uma vez, pode soar como uma ofensa. Então já sabe, no metrô, o lugar é seu, mas não vale sair correndo para pegar ele quando entrar no vagão, ok?
6) Entregar o dinheiro na mão do vendedor
O japonês tem um senso de higiene completo, que inclui notas de dinheiro e sapatos. Como sabemos, uma nota de dinheiro (de qualquer que seja, a única diferença é que uns valem mais e outros menos) pode ser mais suja que um pau de galinheiro, mas mesmo assim, a gente manuseia como se ignorasse isso.
Além disso, a preferência pela ausência do contato físico também é um dos motivos para explicar este tópico.
No Japão, você nunca entrega o dinheiro diretamente ao vendedor. Todas as lojas possuem uma bandejinha em frente ao caixa onde você coloca suas cédulas e moedas para efetivar a compra. De lá, o vendedor pega e dá o troco, ou faz o que tiver que ser feito.
Novamente, não vai te causar nenhum problema se você der o dinheiro direto na mão de alguém, mas saber da existência dessa bandeja vai evitar a sua confusão ao ficar insistindo para alguém pegar o dinheiro e a pessoa não aceitar…
7) Esperar a conta e a maquininha de cartão na mesa
A mesa do restaurante é lugar de comer. O dinheiro, aquela coisa meio suja que falamos no item anterior não combina com as iguarias que você coloca dentro do seu sistema, também conhecido como corpo.
Sendo assim, dinheiro nunca é manuseado para pagar a conta na mesa do jantar.
Em todos os restaurantes que fui e que vi, você come tranquilo, o garçom deixa um papel na sua mesa, então você vai ao caixa e efetua o pagamento.
Prático, mais higiênico, simples, e você não precisa ficar esperando horas pela sua conta.
8) Espetar o hashi na comida
Você não é obrigado a saber comer de hashi. Mas é bom saber que não se deve fazer algumas coisas com ele.
Alguns restaurantes que recebem turistas até disponibilizam talheres se você pedir. Se você for comer sushi, não se avexe, é normal pegar com as mãos mesmo. Não tem problema nenhum tentar usar o hashi, mesmo que você não tenha muita prática.
Mas não brinque com o hashi. Não enfie no cabelo como se fosse um bico de pato. Não gesticule no ar com ele. Não chupe ou lamba a pontinha do hashi. Não espete a comida com ele se você não conseguir pegar. E acima de tudo, não coloque ele espetado verticalmente dentro do bowl de arroz ou outra comida, pois isso remete à um ritual relacionado à morte e oferendas aos mortos. Entendido?
9) Não respeitar as regras do onsen
Uma das coisas mais gostosas e típicas de se fazer no Japão (além de provar a comida maravilhosa) é ir em um onsen, os banhos termais. (Já falei sobre isso em outro post,confira aqui)
Mas para ir em um onsen, você precisa seguir as regras do lugar, que incluem:
– Não ter tatuagem: a maioria dos onsen não aceitam pessoas que tenham tatuagens, mesmo que essas pessoas sejam estrangeiras. No Japão, pessoas tatuadas geralmente tem ligação com a máfia, por isso não são bem vistas em ambientes familiares. Eles sentem-se ofendidos com as tatuagens dos outros. Logo, se você tem tatuagem, vai ter que arrumar outro rolê, ou tentar ir em um onsen privado.
– Entrar na água com alguma peça de roupa: mesmo que você esteja morrendo de vergonha de se despir na frente de desconhecidos, saiba que eles não vão estar nem aí para o seu corpo escultural ou para as suas gordurinhas a mais. O hábito de ir em um onsen e tirar a roupa para isso é tão corriqueiro e comum para os japoneses como o nosso de ir a praia de biquini fio dental.
– Deixar o cabelo solto enquanto estiver na água: um dos motivos pelos quais roupa, cabelo ou qualquer outro objeto não são permitidos no onsen é porque os mesmos podem sujar a água, que devem estar limpíssima o tempo todo.
Por isso, é aconselhável que você prenda o cabelo quando for entrar no onsen, para evitar o contato com a água.
– Tirar foto: o onsen é tão legal, tão diferente, que dá vontade de tirar mil fotos para mostrar para os seus amigos no Instagram, não é?
Só que você deve lembrar que as pessoas que estão ali estão em um momento de relaxamento privado (e além disso elas também estão peladas) e por isso, as fotos dentro do onsen são proibidas.
Melhor fica com a lembrança só na memória e no coração, e aproveitar os momentos mais que tirar fotos, right?
Agora você já é mestre na arte de entrar no onsen…
10) Dar gorjeta
Os japoneses são extremamente sérios em relação ao seu trabalho e dinheiro. Quando eu digo isso, quero dizer que além de serem muito comprometidos, eles também tem uma relação direta entre trabalho e honra.
Quando você dá gorjeta no Japão, é entendido como se estivesse desprestigiando ou subestimando o trabalho da pessoa, como se você fosse superior, tivesse mais dinheiro e por isso pode pagar a mais do que o produto ou o serviço realmente custa.
Pra mim faz todo o sentido. Então simplesmente não dê e nem faça menção de dar gorjeta a ninguém. Sério.
11) Atravessar no farol vermelho ou fora da faixa
Sabe aquele lugar em que as pessoas são tão by the book, seguem as regras tão seriamente que nem precisam perguntar o porquê da regra? O Japão é assim.
E isso fica claro quando você vê as pessoas esperando para atravessar em um farol vermelho em uma rua deserta, ou andando até a faixa mesmo que não tenha nenhum carro vindo.
Do lado dos carros, eles vão parar nas placas de Pare e não só reduzir a velocidade. Vão deixar o pedestre passar quando forem virar em uma rua e também vão esperar o farol vermelho, ou parar no amarelo ao invés de acelerar.
Simplesmente porque essas são as regras. E porque eles são educados dessa maneira.
E você não quer parecer mal educado, quer?
Eu sei que à primeira vista, visitar o Japão pode parecer complicado, um país cheio de regras e convenções sociais que você não pode quebrar de jeito nenhum. E que também parece ser fácil cometer uma gafe imperdoável por lá.
Mas, trust me, seguindo essas regrinhas acima você não deve ter nenhum problema por lá. E essas são regras bem simples de seguir, não é?
Tenho certeza que você vai lembrar da Magali quando sua mente transgressora estiver a ponto de atravessar um farol vermelho no Japão.
By: http://magaliviajante.com/2015/06/17/11-coisas-que-voce-nao-deve-fazer-no-japao/