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AGENT CARTER – 1 TEMPORADA | CRÍTICA

  • Eu provavelmente fui o primeiro a reclamar de que a Marvel poderia dar uma série para Peggy Carter enquanto havia dezenas de melhores personagens para se explorar do que ela, se queriam fazer uma série com uma personagem feminina eu poderia citar várias melhores para ganhar o espaço. E por isso mesmo quando a série foi confirmada eu comecei a duvidar da capacidade de julgamento da Divisão de TV da Marvel Studios, especialmente porque Agents of S.H.I.E.L.D.estava em uma agonizante primeira temporada.


    Porém, depois de assistir o primeiro episódio da série relativamente curta da ex-namorada doCapitão América eu entendi plenamente o que a Marvel estava fazendo e o quanto eu estava errado. Agent Carter não só é uma série fenomenal, mas eu posso afirmar que é a melhor série adaptada de quadrinhos que temos hoje. Não tem para ArrowThe FlashGotham e nem mesmo para as boas Constantine e Agents of S.H.I.E.L.D.Agent Carter é facilmente a melhor de todas essas.


    Parte disso é porque ela é a única que abandonou o ultrapassado método de “Caso da Semana” (Agents of S.H.I.E.L.D. também abandonou isso na segunda temporada) que algumas séries insistem em ter e ela conta uma boa história fechada com inicio, meio e fim, com uma narrativa extremamente bem pensada e calculada para te deixar terrivelmente ansioso pelo próximo episódio.



    Para os fãs do Universo Cinematográfico da Marvel é interessante ver aquele mesmo mundo que conhecemos só que anos atrás e sem poderes, já que o “Primeiro Vingador” estava congelado em algum lugar do Atlântico Norte e todos que restaram são pessoas normais tentando lidar com toda a bagunça que sobrou da segunda guerra.


    Nessa bagunça, está a SSR uma espécie de S.H.I.E.L.D. pré-histórica e mais incompetente, ondePeggy trabalha e claro, é quase sempre desconsiderada por ser mulher e está ali mais por ser a “ex-namorada do Capitão América” do que por algum motivo real e como bem diz na introdução da série, suas atribuições mudaram bastante desde a guerra e agora ela basicamente ela serve cafezinho, independente de suas qualificações.


    A série começa quando Howard Stark, que é uma versão antiga e mais barata do Tony Stark doRobert Downey Jr e mesmo assim um grande personagem que quase sempre rouba a cena (no último episódio em especial ele está divertidíssimo), vê suas invenções roubadas por um grupo Russo chamado Leviatã que quer se vingar dele e culpá-lo por crimes nos EUA, graças a um erro de seu passado.



    Quando Howard pede ajuda a Peggy para limpar seu nome, começa uma das melhores coisas da série que é a interação entre ela o mordomo de Howard, Edwin Jarvis, que acaba virando seu parceiro de investigação para ajudar a limpar o nome do seu chefe. Jarvis, interpretado pelo incrível James D’arcy (o Lee Ashworth de Broadchurch) também acaba roubando diversas cenas em que aparece sendo o típico estereotipo Inglês que conhecemos.


    Das diversas coisas interessantes que Agent Carter mostra, talvez a mais legal e ao mesmo tempo chocante de todas seja o treinamento da Viúva Negra, em uma cena espetacular típica de um filme do estúdio, nós conhecemos o treinamento de Dottie Underwood, uma das Viúvas Negras russas, assim como Natasha Romanov, a personagem da Scarlett Johansson em Os Vingadores. O treinamento é brutal, toda a cena que o demonstra é espetacular e o principal motivo da Rússia usar o treinamento em jovens garotas faz um belo paralelo com o principal conflito de Peggy: a sociedade do final dos anos 40 que subestimava as mulheres.



    O inimigo mais constante de Peggy Carter a temporada inteira é o machismo da sociedade e dos seus próprios colegas de trabalho, fato que lhe obriga a trabalhar em missões perigosas por conta própria ou ao lado de Jarvis que não é necessariamente útil em uma situação de perigo. O paralelo é válido com as Viúvas Negras também, já que a primeira vez que uma delas aparece em cena pra valer, é na figura de uma menininha indefesa em um dos melhores episódios da série, ela por sua aparência frágil consegue quase matar um dos agentes da SSR que abaixou a guarda para ela, não por ser uma criança, mas por ser uma menina. O mesmo vale para Howard Stark, que mostrou coisas demais para a própria Dottie no passado sem se preocupar com as consequências por mecanicamente sempre tratar mulheres apenas como objetos sexuais, mas de pouca inteligência.


    Dottie e Peggy são paralelas, mas também opostas na história, enquanto Peggy tenta não ser uma vítima da sociedade, Dottie tenta ser uma arma contra ela, o que pensando bem agora é o típico meme das inversões da Rússia aplicado disfarçadamente numa grande história. O embate final entre as duas é bem simbólico também por isso, só o final é um pouco ilógico, já que não dá pra imaginar num contexto mais mainstream, por exemplo, uma Agente da S.H.I.E.L.D. comum, tipo oCoulson, ganhando na porrada da Viúva Negra da Scarlett Johansson em uma briga.


    Diversas insinuações de um universo maior também surgem em tela aqui e ali na série, e o universo não só dos filmes atuais da Marvel, mas tanto coisas que ainda não foram exploradas no presente, quanto coisas que veem direto dos quadrinhos. Exemplos é que não faltam, entre eles o Comando Selvagem do primeiro filme do Capitão América, o vilão Dr. Fausto direto dos quadrinhos, relações com Homem de Ferro 2, Hydra, Stan Lee, Viúvas Negras e centenas de outras coisas que se você é fã do que a Marvel está fazendo nos cinemas, fazem de Agent Carter uma série imperdível, mais imperdível até do que Agents of S.H.I.E.L.D. que é mais atual, mas que tem referencias menos orgânicas.



    Uma das coisas que Agent Carter também acerta muito mais do que Agents of S.H.I.E.L.D. e até do que alguns filmes da Marvel, tipo Homem de Ferro 3, é a forma como dosar o humor dentro da história. Jarvis e Howard Stark são os alívios cômicos da série e eles nunca soam como um estorvo para ela, a série é engraçada na medida certa. Esse é um dos maiores problemas que a Marvel enfrenta em algumas de suas obras, saber até onde a piada deve ir, por mais engraçado que sejam Guardiões da Galáxia e Os Vingadores a comédia soa muito bem ali porque ela é usada precisamente, mas a mesma comédia por outro lado prejudicou muito Thor 2,Homem de Ferro 3 e a primeira temporada de Agents of S.H.I.E.L.D. e esse é um problema que está tão abaixo de Agent Carter que eles resistiram até mesmo a tentação de fazer uma superexposição de Howard Stark, sabendo que o personagem funciona perfeitamente bem como coadjuvante e nem tanto como protagonista. Uma lição que se Piratas do Caribe tivesse aprendido, ninguém hoje estaria enjoado do outrora genial Jack Sparrow.


    Como eu mencionei antes, quando a ideia da série surgiu eu não conseguia enxergar nada de interessante a ser contado para Peggy Carter, agora eu tenho um milhão de ideias do que seria legal ver em uma provável segunda temporada  e já estou com saudade de ver Hayley Atwell, que esqueci de dizer, mas simplesmente arrasa como a personagem, voltando a enfrentar vilões clássicos, uma revanche com a Dottie, possivelmente a  Hydra e até o Soldado Invernal e né claro, o seu arqui-inimigo: o machismo de uma sociedade ultrapassada.

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