Hunger é um filme de uma situação de medidas desesperadas, e como tal é um filme que “exala” esse desespero. A situação em questão era o conflito entre o governo britânico e o Exército Republicano Irlandês (IRA).
O ano é 1981. Acompanhamos a vida na prisão das pessoas. São basicamente três núcleos distintos que vemos no filme. Primeiramente acompanhamos o desgaste psicológico que os guardas da prisão tem. Depois o dia a dia dos presos. E por último acompanhamos a greve de fome.
Cada núcleo nos leva a entender o outro. É fácil pensar que são os presos e não os guardas que deviam estar sob grande desgaste emocional, porém vemos as coisas que eles tem que passar, como se comportam os presos e como eles têm que reagir para manter controle na prisão.
O dia de visita por exemplo, não é um dia de rever os familiares. É um dia para traficar todo tipo de coisa para dentro da prisão. Uma criança que é pega na colo tem coisas dentro de sua roupa. Um beijo que passa outra coisa de uma boca para outra. E por aí vai.
Se não conhece muita coisa coisa sobre o conflito e não sabe como se posicionar sobre ele, não é aqui que vai encontrar uma posição a que se possa se apoiar. Esse filme é sobre fatos. Sobre as pessoas que estão dentro da prisão, como vivem e como convivem. Nada além disso.
Steve McQueen (diretor e não o ator, que já é falecido), filma com uma crueza espantosa. O presos tem que colocar seus restos por baixo da porta. São espancado e tem seus orifícios inspecionados numa sessão de espancamento. Nada de grandes diálogos nesse filme, Hunger é um filme de imagens.
No único grande diálogo do filme, acompanhamos o embate entre Bobby Sands, um dos líderes da prisão e um padre. Bobby explica que vai fazer a greve de fome para chamar a atenção da sua causa. O padre tenta persuadi-lo de sua campanha. “Se funcionar, você não estará vivo para ver.” Mas Bobby está convencido e explica seus motivos. Não é uma questão de quem está certo ou errado, são dois pontos de vistas distintos e acabamos “aceitando”ambos. O Governo não está recuando, Bobby também não pode.
O padre nem ao menos discute sobre o ato de Sands ser considerado um suicida, apenas argumenta sobre o ato que ele vai realizar por si próprio.
A greve é filmada com a mesma crueza espantosa de todo o resto do filme. Sands vai definhando de forma lenta. Pouco a pouco, num emagrecimento que o ator Fassbender faria Christian Bale (O Operário) ficar com inveja. Cada vez mais magro e fraco com feridas pulando por sobre seu corpo, é uma questão de tempo até sua morte.
A greve tem seu efeito. Tatcher não admite (ela não era conhecida como a Dama de Ferro à toa), mas com essa greve de fome, que acabou com a morte de dez internos, o governo teve que reconhecer os prisioneiros como políticos, e não criminosos comuns. Mas Sands realmente não viu isso acontecer.
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