Um dos últimos suspiros da Nokia antes de ser adquirida pelaMicrosoft foi a tentativa de emplacar um smartphone com o sistema operacional Android no mercado. Entretanto, a empresa optou pelo caminho pouco convencional de adaptar o sistema da Google para sua interface, dando como alternativa de download para os usuários uma loja própria customizada.
O resultado dessa experiência é o smartphone Nokia X, um “patinho feio” em meio ao portfolio de Windows Phone da Nokia, agora administrado pela Microsoft. No Brasil, o celular demorou a chegar – o lançamento no exterior aconteceu em março –, e quando chegou foi parar nas lojas sem nenhum alarde e sem muito destaque.
Será que vale a pena investir o seu dinheiro em um aparelho que nem mesmo a Microsoft parece fazer muita questão de ter em seu portfólio? As nossas impressões sobre o Nokia X são o que você confere agora. O smartphone Nokia X foi cedido por empréstimo pela loja Cissa Magazine.
O Nokia X é voltado para os consumidores que procuram um smartphone básico. Por conta disso, não há nenhum luxo ou recurso diferenciado para atrair o consumidor. A ideia é oferecer o que há de mais simples e funcional, em um pacote que contempla apenas o essencial em se tratando do Android.
O modelo é construído em plástico, e sua parte traseira inteira é removível. Nas laterais há apenas o botão Power e os controles de volume. Há saída para fones de ouvido, na parte superior, e entrada para o carregador micro USB, na parte inferior. O design aposta em um aparelho com visual “quadrado”, com leves curvas nas quinas. A saída de áudio, mono, está localizada na parte traseira.
Removendo a tampa traseira, você tem acesso à bateria (removível) e também às duas entradas para SIM card e para cartão micro SD. Outro detalhe importante: os botões laterais estão localizados na tampa, e apenas os conectores sobram na carcaça. Por isso, todo cuidado é pouco, pois esse estilo escolhido tende a ser mais problemático com o passar do tempo de uso.
É nesse quesito que começam os problemas do Nokia X. Mesmo para um modelo considerado de entrada, o desempenho é sofrível, e há modelos com Android (como o Sony Xperia E1) ou Windows Phone (como o Lumia 630), na mesma faixa de preço, que apresentam resultados consideravelmente superiores.
O Nokia X tem apenas 512 MB de RAM e 4 GB de espaço de armazenamento, o que é muito pouco para um modelo com Android. Na prática, se contarmos os arquivos de sistema, sobra apenas 1,2 GB livre, o que é irrisório. Em nossos testes, a navegação se mostrou lenta, a transição entre apps constantemente apresentou pequenos travamentos e alguns jogos simples, como Jetpack Joyride, em alguns momentos engasgaram.
Na prática, a experiência de uso está longe do ideal e, mesmo o aparelho tendo sido lançado em 2014, a impressão que ele dá ao usuário é a de possuir um hardware característico do início de 2013. É praticamente impossível ficar indiferente à sensação de que estamos diante de um modelo defasado.
Outra limitação bastante incômoda é o fato de a Nokia ter apostado em uma versão muito personalizada do Android, com interface bem diferenciada e sem um link direto para a Play Store. Assim, para fazer o download de um aplicativo, é preciso acessar a loja da Nokia e, a partir de lá, buscar o arquivo em outros locais (que incluem a Play Store). Não há Gmail, Google Calendar ou Google Drive e você não pode nem mesmo sincronizar os seus contatos.
Se por um lado essa é uma garantia de que o consumidor vai encontrar apenas apps que rodem no Nokia X, por outro lado é algo que frustra bastante a experiência de quem está em busca de um Android, algo que, repetimos, modelos de entrada de outros fabricantes fazem muito bem.
Além de o espaço ser pequeno, o número de itens incluídos no pacote é grande. São pelo menos 10 jogos, além do navegador Opera (um extra já que há um browser próprio) e de redes sociais e mensageiros como Facebook, Twitter e Skype. A interface da tela inicial aposta em uma mistura do visual do Windows Phone, em forma de lista, sem um dock de acesso rápido aos aplicativos-padrão.
Se levarmos em consideração o preço do Nokia X e as características do display oferecido, é possível afirmar que ele não decepciona e entrega para o usuário uma tela com qualidade aceitável. A resolução de 800x480 pixels (WVGA) resulta em uma densidade de pixels de 233 ppi.
Os níveis de contraste e brilho são satisfatórios dentro da sua proposta. A resposta aos toques na tela é igualmente agradável, de forma que o manuseio não será nenhum problema. Já o índice de reflexividade na tela é alto, mas, novamente, vale a ressalva que para aquilo que se espera de um modelo desta categoria, o resultado final é adequado.
O Nokia X não conta com uma câmera frontal, por isso você terá que se contentar apenas com a traseira, cuja resolução é de 3,15 megapixels. Outra má notícia para o consumidor é que ela não conta com foco automático, apenas foco fixo. Isso faz com que o menor movimento faça suas fotos ficarem desfocadas.
Apesar disso, há um bom número de configurações possíveis de serem alteradas no menu da câmera, como ISO, recurso de detecção automática de rostos, brilho e saturação. Tudo isso somado resulta em fotos apresentáveis na maioria das situações, em especial quando há boas condições de iluminação. Já as fotos noturnas ficam seriamente comprometidas, com muitos ruídos e granulações.
Como player de música, o Nokia X não deixa a desejar. Não estamos falando de um aparelho com qualidade profissional de áudio, mas certamente ele não vai largar ninguém na mão por conta disso. O modelo vem acompanhado por fones de ouvido simples, bastante funcionais e adequadas para ouvir, por exemplo, Rádio FM, um dos recursos disponíveis.
Já a qualidade de áudio do aparelho em si, quando utilizado sem fones de ouvido, deixa a desejar. O som é abafado e fraco, e aqueles que estiverem acostumados com um som estéreo em um dispositivo portátil certamente vão sentir a diferença. A dica aqui é usar sempre um fone de ouvido, daí não há problemas.
É difícil imaginar que alguém que tenha como foco o uso abundante de recursos multimídia, como a exibição de vídeos do YouTube, escolha o Nokia X como aparelho para essa finalidade. Em nossos testes, essa característica não se demonstrou um problema no que diz respeito à durabilidade da bateria. Foram necessárias quase cinco horas com exibição de vídeo para drenar a carga por completo.
Já em uso moderado ao longo do dia, a situação se mostrou menos interessante. Com o 3G ativado, ações como navegar na internet, checar emails ou conferir atualizações em redes sociais fizeram com que a bateria acabasse em menos de 12 horas em praticamente todas as ocasiões. Não chega a ser um problema para um produto dentro desta faixa de preço, mas manter o carregador sempre por perto pode ser interessante.
Vamos ser objetivos: não, não vale a pena investir o seu dinheiro no Nokia X. As razões que nos levam a afirmar isso são muitas, mas certamente a principal delas é a experiência ruim do Android que a Nokia traz para o consumidor. Sem acesso direto à Play Store, a limitação de uso é grande. E ter um Android sem os principais serviços da Google é algo que não faz muito sentido.
O hardware fraco poderia até ser relevado caso houvesse algum espaço de armazenamento para você salvar as suas fotos ou baixar novos apps. Dos 4 GB de armazenamento, apenas 1,2 GB está disponível. A interface customizada pela Nokia não é das melhores, mas não chega a ser um problema. Porém, as limitações técnicas do aparelho fazem com que não seja possível customizar praticamente nada – o que, nesse caso específico, pode ser algo ruim.
Por fim, vale lembrar que há modelos com Android ou Windows Phone na mesma faixa de preço e que apresentam resultados melhores. A versão do Android utilizada é a 4.1.2 e, muito provavelmente, não terá mais nenhuma atualização. Aliás, nem mesmo a Microsoft parece muito interessada em promover o produto, já que em seu site oficial ele nem sequer é listado. Na dúvida, evite.