Em vez de crachá ou senhas, um escritório sueco adotou um novo modo de identificar seus funcionários: um pequeno chip subcutâneo. Do tamanho de um grão de arroz, o aparato permite que os trabalhadores do prédio Epicenter abram a porta de entrada, ativem a máquina de xerox e, em um futuro próximo, devem servir como forma de pagamento no refeitório. A adesão à nova tecnologia não é obrigatória – ou seja, quem quiser continuar utilizando método cara-crachá não vai ser proibido de entrar no prédio – mas a iniciativa causou polêmica e levantou questionamentos ao redor do mundo.
De acordo com Leandro Totti Cavazzola, coordenador do Programa de Cirurgia Robótica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), o procedimento é bastante simples. Pode ser feito através de uma pequena incisão na pele ou por meio de uma injeção – o repórter Rory Cellan-Jones, da BBC, passou pelo procedimento, feito com uma injeção, e relatou que "não é livre de dor". Com utilização de anestesia local, dura menos de um minuto e não exige internação.
– Há vários tipos de chips. Os mais simples contêm informações sobre a pessoa e são escaneados para mostrar essas informações. Os mais complexos atuam na liberação de medicamentos no organismo, regulam determinados hormônios. É um procedimento simples, que deixa uma marca menor que um sinal de nascença. Mas isso não é feito em larga escala no Brasil. Por aqui, só ouvimos falar, é algo da medicina futurista, por enquanto – garante Cavazzola.
Ainda que não seja obrigatório, o procedimento foi visto por muitos como uma invasão aos funcionários. O advogado trabalhista Luiz Afrânio Araujo diz que, se uma empresa trocasse crachás por chips no Brasil, isso seria facilmente enquadrado como violação do inciso XX do artigo 5º da Constituição, que diz que "são invioláveis a intimidade, a vida privada", entre outros fatores, do funcionário. De acordo com Araujo, não há registro de algo dessa natureza no Brasil.
– Se isso acontecesse no Brasil, a tendência é de que fosse proibido, por violar o direito à intimidade e à vida privada do trabalhador. A empresa inclusive poderia ser condenada a indenizar quem eventualmente se sentisse prejudicado por essa exigência. A inserção de um chip no corpo do empregado parece ultrapassar os limites do poder diretivo do empregador.
Na reportagem da BBC, o bio-hacker Hannes Sjoblad, que idealizou o recurso, disse que pretende se antecipar a uma possível tendência de empresas no futuro.
– Nós queremos entender essa tecnologia antes que grandes empresas e governos venham até nós e digam que todo mundo deve receber um chip, como o chip dos reguladores de impostos, do Google ou do Facebook.