Raça Bovina Crioula Lageana Aspada
Por: Amauri Scheurmann - Filmado na Expolages 2015 - Lages, Santa Catarina
No Brasil, o primeiro rebanho de bovinos, trazido por colonizadores, foi desembarcado em São Vicente no ano de 1534 (Lima et al., 1990). Depois chegaram mais bovinos na costa de Pernambuco e posteriormente na Bahia (Mariante & Cavalcante, 2000). De São Vicente partiram grupos de bovinos, levados por colonizadores, para os campos sulinos, para Goiás, para o Vale de São Francisco (Minas e Bahia) e chegaram até os campos do Piauí e Ceará. Os bovinos desembarcados em Pernambuco e Bahia migraram para os sertões nordestinos, norte de Minas, oeste da Bahia, encontrando rebanhos originários de São Vicente (Primo, 1993).
Os três núcleos – São Vicente ao sul, Salvador ao centro e Recife, ao norte – se constituíram nas zonas importadoras de gado de origem portuguesa, que se reproduzia livremente, sem a interferência do homem (Mariante & Cavalcante, 2000). Quase todas as raças crioulas locais tiveram como ancestrais os bovinos de Portugal, a Barrosã, a Mirandesa, a Minhota, a Alentejana e a Arouquesa (Mariante & Cavalcante, 2000). Exposto a um processo de seleção natural durante várias gerações, o gado crioulo adaptou-se às condições locais e desenvolveu características que o permitiram sobreviver a uma oferta de alimentos geralmente pobre em nutrientes.
A origem do Gado Crioulo na América Latina, possivelmente, é dos antigos bovinos Hamíticos, caracterizados por chifres longos, domesticados no Egito há aproximadamente 4000 anos a.C., e introduzidos no sul da Espanha procedentes da África do Norte. A introdução de bovinos no Rio Grande do Sul, de acordo com Araújo (1990), foi realizada pelos jesuítas, com o propósito de abastecer os povos das Missões. Posteriormente, com a invasão das Missões pelos Bandeirantes, os bovinos capturados tinham por destino a região de Franca, SP, de onde surgiu a denominação de bovino Franqueiro. Diversos exemplares foram posteriormente transferidos para várias regiões do Brasil, onde foram cruzados com rebanhos lá existentes, formando as raças Curraleiro, Franqueiro, Junqueira, Mocho Nacional, Caracu, Pantaneira. Supõe-se que muitos animais tenham se extraviado das tropas ao longo do caminho, sendo que na região do Planalto Catarinense embrenharam-se nas matas e, com o tempo, passaram a formar rebanhos nos campos de Lages. Com a colonização do Planalto Catarinense, os colonos trouxeram o gado Franqueiro, que, provavelmente, cruzou com bovinos ali existentes, originando o gado conhecido como Crioulo Lageano, que até o início do século passado era a raça predominante nos campos de Lages.
O bovino Crioulo Lageano foi, por longo tempo, o principal esteio da bovinocultura das regiões fisiográficas dos Campos de Cima da Serra no Rio Grande do Sul e do Planalto Catarinense (Mariante & Cavalcante, 2000). A partir do final do século passado, esses bovinos passaram a ser cruzados com animais de raças européias e zebuínas. Admite-se que os bons resultados obtidos com os cruzamentos favoreceram as importações de reprodutores de outras raças, causando o desaparecimento quase que total dos bovinos Crioulos. Atualmente, a população desses bovinos encontra-se reduzida a um efetivo que não ultrapassa 500 animais, e mais de 80% da população pertence a um só criador. Trabalhos de pesquisa desenvolvidos pela Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Recursos Genéticos e Biotecnologia e pela Universidade Federal de Santa Catarina, em colaboração com alguns criadores particulares, evidenciaram vantagens na exploração da raça Crioulo Lageano, não só como raça pura como também em cruzamentos, nas condições de criação extensivas do Planalto Sul-brasileiro (Mariante & Trovo, 1989).
O bovino Crioulo Lageano, criado na Fazenda Canoas, localizada no Município de Ponte Alta, próximo a Lages, SC, extremamente adaptado à região. É rústico, com porte avantajado, maturidade sexual tardia e alta prolificidade. Apresenta mais de 40 tipos de pelagens diferentes, e a predominante é a africana, com lombo e barriga brancos e manchas vermelhas ou pretas no costilhar, e pêlos vermelhos ou pretos circundando os olhos. Alguns animais apresentam traços de zebu, enquanto outros de Franqueiro ou de gado africano (Payne, 1970).
A caracterização genética é importante para os programas de conservação de recursos genéticos animais, pois avalia a distância entre as populações em estudo e pode auxiliar na escolha dos animais a serem utilizados na conservação ex situ e in situ, mediante a estimativa de índices de similaridade entre os indivíduos analisados. Além disso, possibilita a indicação de acasalamentos ou cruzamentos que favorecerão a manutenção da máxima variabilidade genética e evita esforços na manutenção de amostras que geneticamente seriam similares (Egito et al., 2001).