Fala AssombradOs! Nos últimos dias, a imprensa brasileira e internacional vêm propagando uma história sobre um bebê, que nasceu quatro anos após a morte de seus pais. Porém, como isso seria possível? Para entender corretamente essa situação é necessário acompanhar a sequência dos acontecimentos que deram origem a essa notícia. Tudo começou, quando o casal, Shen Jie e Liu Xi, após dois anos de casados, resolveu tentar a chamada "fertilização in vitro" (FIV). Eles moravam na cidade de Yixing, na província de Jiangsu, na China. Contudo, o casal morreu em um acidente de carro no dia 20 de março de 2013, apenas cinco dias antes de um transplante, que já estava agendado, que introduziria embriões gerados através da fertilização in vitro no útero da esposa, com o objetivo, é claro, de ajudar o casal infértil a ter filhos. Porém, seus pais, inconsoláveis, sabiam o quanto o casal queria ter um filho e se mostraram dispostos a tornar o sonho de ambos uma realidade póstuma. Tanto Shen quanto Liu eram filhos únicos em suas famílias.
De acordo com o site de notícias "The Beijing News", nos três anos seguintes, os pais de Shen e Liu lutaram pelos direitos dos quatro embriões congelados deixados por seus filhos, em um caso jurídico complexo e sem precedentes na China. Os embriões foram preservados em um hospital de Nanjing, e se tornaram a única esperança dos pais de perpetuarem a linhagem familiar. No entanto, como não há regulamentação na China sobre como lidar com embriões humanos não transplantados, os pais de Shen e Liu encontraram obstáculos na recuperação dos embriões do hospital. Para obter o direito de lidar com os embriões, os pais de Shen Jie instauraram uma ação contra os pais de Liu Xin (de propósito e comum acordo), porque processar o hospital seria "arriscado demais". No primeiro julgamento do caso, a Corte Popular de Yixing rejeitou a petição dos pais de Shen para retirar os embriões do hospital, alegando que "um embrião tem o potencial de se transformar em vida, por isso não é permitido ser transferido ou herdado como outros objetos". Porém, o casal recebeu o direito de lidar com os embriões no segundo julgamento pelo Tribunal Intermediário de Wuxi, que considerou "os embriões deixados por Shen e Liu como os únicos portadores das linhagens de sangue das duas famílias, carregando as memórias de seus pais, além de fornecer consolo emocional para eles".
Em setembro de 2014, depois de ganhar os direitos para lidar com os embriões, Shen Xinnan, o pai de Shen Jie, pediu ao hospital para entregar os embriões para ele. O hospital, no entanto, disse que os embriões só poderiam ser transferidos para outra instituição médica em vez de um indivíduo. Uma vez que nenhum hospital na China estava disposto a aceitar os embriões, Shen foi forçado a procurar instituições médicas no exterior. Em junho de 2016, ele obteve aprovação para receber os embriões de um hospital no Laos com a ajuda de uma agência que oferece serviços parentais. Os dois casais recuperaram os embriões do hospital, e os mantiveram em um recipiente de nitrogênio líquido. Depois de recuperar os embriões, os casais enfrentaram outro problema: como encontrar uma "barriga de aluguel"? De acordo com uma regulamentação do então Ministério da Saúde, em 2001, a "barriga de aluguel" é proibida na China. Isso significava, que os parentes precisavam procurar por agências clandestinas. Shen Xinnan entrou em contato com dezenas de agências antes de conhecer um homem chamado Liu Baojun, que dirige uma agência desse tipo.
Por sugestão de Liu, Shen escolheu um hospital no Laos para receber os embriões, uma vez que a atividade comercial da "barriga de aluguel" era permitida no país (não é mais permitida desde janeiro deste ano). O transporte dos embriões teve que ser feito de carro, porque nenhuma companhia aérea queria transportar o recipiente. Uma "mãe de aluguel" do Laos foi escolhida entre mais de 20 candidatas para gestar os embriões. Depois que os embriões foram transplantados para o útero, a gestante ficou em uma casa no Laos dividida com várias outras "mães de aluguel". Em 9 de dezembro de ano passado, a "mãe de aluguel" deu à luz um menino em um hospital em Guangzhou, província de Guangdong, no sul da China. Aliás, isso só foi possível depois de um longo e penoso processo, que envolveu exames de DNA, vistos de entrada no país e diversas outras complicações. Sua avó materna lhe deu o nome de Tiantian (literalmente "Doçura") na esperança de trazer felicidade e doçura para as famílias enlutadas.
Redator Marco Faustino
* Música: https://www.youtube.com/user/myuuji
* Jingle no final feito por Fernando Kielblock
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