Muito além das mensagens subliminares, a Disney é uma transformadora de crianças – no pior sentido da palavra
Quem não cresceu vendo filmes da Disney, onde príncipes reluzentes sempre terminam com princesas elegantes? Onde ninguém que é pobre, feio ou diferente se dá bem? Onde não existe homossexualidade e drogas, mas coisas muito piores? Se você acha que dar filmes da Disney para crianças é algo livre de mensagens negativas, pense de novo. Aqui nossos motivos pra estar dizendo isso:
Você sabia que na verdade Pocahontas tinha 10 anos, na história real, e que o galã John Smith ajudou a dizimar a população indígena norte-americana? Não, eles nunca ficaram juntos, e na verdade a jovem serviu como um tipo de embaixadora entre colonizadores e colonizados, mas não ao ponto de realmente mudar algo historicamente. Como, por exemplo, evitar que mais de 90% dos indígenas, como aconteceu na América do Sul, fosse destruída através de guerras e doenças – isso quando os índios não viravam escravos, serventes ou mercadoria. O final feliz do filme, como dá pra imaginar, é só no cinema mesmo.
Tirando a Branca de Neve e outras princesas mais antigas, todas as silhuetas de princesas modernas são incrivelmente finas, beirando a anorexia. Se você acha que isso não faz sentido, repare em outra coisa: a maioria das vilãs é gorda. Como você acha que isso deixa crianças obesas se sentindo? Pense a respeito.
Essa é a mais famosa, mas nem por isso deixa de ser maligna. Cenas de nudez, constantes referências a sexo e homossexualidade como algo de vilões dândi são alguns dos constantes elementos (não) vistos em filmes da Disney, supostamente feitos para a família.
O que aconteceria se você chegasse numa mulher dormindo e a beijasse? Diferentemente de Bela Adormecida ou Branca de Neve, provavelmente ela não casaria com você! Inclusive, você provavelmente iria para a cadeia, ou pelo menos levaria um belo tabefe. Pois é, mas na Disney não é assim, e pior ainda: esses beijos representam o “despertar sexual”, o que, metaforicamente, faria desses príncipes estupradores.
Vamos analisar o que é um príncipe encantado? Ele é: 1) bonito, 2) rico, 3) confiante. Talvez a única exceção nessa ordem tenha sido Aladdin, que começa (e apenas começa) o filme pobre, apesar de ser bonito e confiante. Afinal, Cinderella fica rica após se casar. A Bela (da Fera) era uma moça comum que fica com um ricaço. O mesmo para a Bela Adormecida, e também para a Branca de Neve e Pocahontas e…enfim, você entendeu a ideia. Assim como a anorexia para as garotas, essa não é uma mensagem muito legal para os garotos, que verão mulheres-princesa como prêmios e acharão que a única forma de tê-las é com dinheiro.
A vilã de Pequena Sereia foi inspirada numa drag queen, a bruxa da Bela Adormecida tem como centro de seu ódio ter ficado feia, a vilã de Branca de Neve é incrivelmente velha…Resumindo, praticamente todos os antagonistas serão gordos, velhos ou feios, e isso sempre – sempre – definirá que são maus. Por isso, para a Disney, boa aparência é sinônimo de bondade e moralidade.
Além da ausência dela ser imoral, ela é infelizmente intransponível. Caso um personagem feio (e mau) decida de se tornar bom, isso só é possível caso ele também fique bonito. Esse é o maior exemplo de “A Bela e a Fera”, que supostamente pregará contra a beleza superficial, mas que devolve ao príncipe (novamente, rico) a sua beleza para que possa terminar com a princesa. Já Quasímodo, o Corcunda de Notre Dame, não tem como ficar bonito, e é um dos poucos protagonistas que não terminam com a princesa…Ah, ele também era pobre!
Apesar de teoricamente não terem nada a ver com religião, os maniqueísmos de filmes da Disney são frequentemente associados com demônios. Podemos ver isso em A Bela e a Fera, Hercules e até em “crônicas de Nárnia”, onde personagens com aparência demoníaca são comuns, e até mesmo amigos dos protagonistas. Ou seja: o capeta seria alguém comum e até legal, se você conhecê-lo melhor.
Apesar de serem filmes para criança, as produções da Disney são sempre adaptadas para mostrar que o bem triunfa sobre o mal (apesar do bem ser sempre branco, rico e jovem, como mostramos). Em “Rei Leão”, que foi inspirado em Hamlet, várias mortes e tragédias – partes essenciais da clássica obra – foram ignoradas, não apenas alterando a obra, mas descaracterizando-a. O mesmo acontece com a “A Pequena Sereia”, que, na história original, é ordenada a matar o príncipe para reconquistar sua cauda. Negando-se, morre de tristeza e fome. Tá certo que são fins fortes, mas a vida real é menos forte que isso, por acaso?
Os corvos de “Dumbo” são talvez o maior exemplo, mas ficam lado a lado com diversas representações extremamente racistas de negros, mais populares na época dos desenhos em preto e branco da Disney.