Além de serem os únicos mamíferos capazes de voar, eles também são os que têm o metabolismo mais alto. Isso faz com que seus corpos queimem metade de sua gordura corporal todos os dias. Sendo assim, os animaizinhos têm a necessidade de comer praticamente o tempo todo.
Para tornar a ingestão de comida mais eficiente, os morcegos contam com uma língua cheia de “pelos” especiais, que ajudam a capturar ao máximo o néctar doce em cada lambida. Esta incrível descoberta foi feita com o vídeo de alta velocidade que você pode conferir abaixo.
O morcego em questão é o Glossophaga soricina, uma espécie que vive principalmente nas Américas do Sul e Central. Os biólogos já sabiam que o animal tinha uma língua peluda, mas eles achavam que estas fibras eram passivas.
Cally J. Harper, que conduziu este novo estudo, explica que as descobertas apontam um movimento ativo, que acontece com a mudança no fluxo de sangue, fazendo com que a língua pegue maiores quantidades de néctar.
“Quando o frio começa, os cabelos em nossos braços ficam arrepiados para cima e este movimento é bastante parecido, exceto que, nos pelos, isso acontece por meio dos músculos, enquanto a fibra na língua dos morcegos é alimentada com sangue”, explica Harper.
As imagens foram capturadas em uma Phantom v10 – uma câmera de altíssima velocidade – usando 500 quadros por segundo. Com a diminuição da velocidade das imagens, é possível perceber claramente o movimento dos “pelos", chamados no estudo de “papilas”.
Os pesquisadores perceberam que o que ocorre ali é um movimento hidráulico – o mesmo processo que desenvolve a ereção em mamíferos. O que intrigava os cientistas é que nenhum movimento hidráulico tão rápido já foi observado. Enquanto a ereção de mamíferos é bastante lenta, as fibras nas línguas dos morcegos levam impressionantes 40 milésimos de segundo para ficarem em pé.
Então, Harper e a equipe de pesquisas da Universidade de Brown passaram a testar línguas retiradas de morcegos mortos. Eles injetaram as línguas em soluções salinas como um substituto para o sangue e descobriram que, conforme a língua cresce, as fibras ficam mais longas e finas.
Com a contração dos músculos, faz com que o comprimento da língua aumente. Ao mesmo tempo, isso espreme o sangue (ou a solução salina) para as pontas das papilas, gerando o processo hidráulico incrivelmente veloz.
Se você tem animais de estimação em casa, já deve ter percebido que seu cão ou seu gato tem línguas poderosas (no caso dos gatos, também com pequenos "pelinhos"), de alta velocidade e que se curvam ao tomar líquidos. O movimento da língua faz com que eles consigam levar enormes quantidades de água até a boca.
Fonte da imagem: Reprodução/Slanted Science
Mas você com certeza já percebeu que, quando os animais tentam tomar água, eles derrubam grandes quantidades de líquidos de volta na tigela ou pelo chão. Segundo Harper, isso não acontece com os morcegos.
As gotas do néctar são capturadas entre as papilas, o que faz com que os morcegos consigam ingerir muito mais líquido do que os outros animais. Para a pesquisadora, isso é uma vantagem evolutiva, o que explicaria o motivo disso aparecer apenas em uma espécie.
Harper não quer deixar que seus estudos morram por aí. Para ela, o sistema por trás das línguas dos morcegos pode ajudar muito na medicina, servindo como base para dispositivos cirúrgicos que alteram suas estruturas hidraulicamente.
“Uma tecnologia baseada nestas línguas poderia ser muito útil para manter os vasos sanguíneos abertos durante uma cirurgia ou, até mesmo, manter partes do intestino aberto”, disse ela. “Algumas cirurgias como angioplastia ou procedimentos gástricos contam com tecnologias auxiliares feitas de metal e outros materiais rígidos. Eu acho que seria ótimo se pudéssemos criar uma ferramenta médica macia e flexível, algo que poderia minimizar os danos nos vasos sanguíneos.”